Relato de Uma Expedição Educativa na Transição Geográfica da Depressão Cuiabana ao Planalto de Guimarães

INTRODUÇÃO

A geografia, enquanto disciplina, transcende a mera acumulação de conhecimento teórico, exigindo um mergulho profundo na realidade e na práxis. É nesse contexto que se insere o relatório presente, documentando uma aula de campo de Geografia Física do Brasil realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Este documento não só narra a jornada vivenciada por alunos e professores mas também serve como um reflexo da complexidade e diversidade do território brasileiro, especificamente focado na transição da Depressão Cuiabana para o Planalto de Guimarães.

A viagem, ocorrida entre os dias 9 e 11 de março de 2024, proporcionou aos estudantes a oportunidade única de aplicar em campo o conhecimento adquirido em sala, permitindo uma compreensão mais aprofundada das dinâmicas geomorfológicas, ecossistêmicas e socioambientais presentes nas regiões visitadas. O relato detalhado dos três dias de imersão oferece uma perspectiva vívida das interações entre os elementos naturais e humanos, enfatizando o papel essencial da geografia física na compreensão e no manejo dos desafios ambientais contemporâneos.

Este documento segue uma estrutura organizada cronologicamente, detalhando as observações, atividades e reflexões empreendidas em cada etapa do percurso. As análises geomorfológicas, acompanhadas de considerações sobre a biodiversidade, a utilização do solo e os impactos ambientais observados, fornecem uma visão holística da interdependência entre a terra e seus habitantes. Através deste relatório, espera-se não apenas documentar a experiência educativa vivenciada mas também inspirar um diálogo contínuo sobre a importância de práticas sustentáveis e conscientes na interação humana com o meio ambiente.

Primeiro dia - 09 de março, Sábado

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Imagem Ilustrativa do primeiro dia e trageto em zigue zague que fizemos até nossa parada final.

Relato das Primeiras Horas da Aula de Campo: Da Depressão Cuiabana ao Planalto de Guimarães

Às sete e meia da manhã, o grupo da UFMT partiu para uma jornada exploratória de três dias, sob a orientação da professora Ivaniza L. L Cabral e seu colega, Professor Cleberson, com destino a Planalto da Serra. A saída matinal da universidade desencadeou uma série de observações criteriosas, onde cada estudante deveria tecer conexões entre o conhecimento adquirido em sala e o mundo vivo diante de seus olhos.

Atravessando a periferia de Cuiabá, a cidade logo deu lugar a uma paisagem mais aberta, marcando a transição da Depressão Cuiabana para o Planalto. A rota usual, que levaria ao Oeste rumo à Chapada, foi deixada de lado. Optamos por um caminho menos trilhado, rumo ao Norte, navegando por aproximadamente 30 quilômetros de transformações geográficas evidentes.

Às margens da estrada, pequenos empreendimentos ecológicos pontuavam o território, revelando uma coexistência de recreação e natureza que muitos de nós ainda não conheciam. Entre essas áreas recreativas e o curso do rio, observamos a presença humana mais assertiva: hortas de frutas e exploração antrópica do terreno, um sinal da influência do homem no Cerrado. Olhando a leste ficava evidente o nome de Depressão Cuiabana para essa região, pois era evidente a paisagem se reaixando à medida que avançávamos, ainda que para noroeste, nesse trajeto que ficará marcado no mapa como um zigue zague.

Depois de 70 quilômetros de viagem, alcançamos um marco conhecido como Portinha. Ali, desviamos para uma estrada de terra, uma rota alternativa que nos introduziu a novas perspectivas e encurtou nosso caminho até a cidade de Chapada dos Guimarães. Este atalho, desconhecido por muitos, prometia ser o início de descobertas significativas no coração do Cerrado, uma região vital para a energia, agricultura e gestão hídrica do Brasil.

Análise Geomorfológica da Depressão Cuiabana

A Depressão Cuiabana, situada como uma expressiva unidade morfológica nos arredores de Cuiabá, configura-se como uma vasta área de transição entre o Planalto Central e a Bacia do Rio Paraguai. Este segmento da jornada destaca-se não apenas pela sua relevância geográfica, mas também pela sua complexidade geocronológica.

Geomorfologicamente, a Depressão Cuiabana é definida por um relevo de baixas altitudes e suaves ondulações topográficas. A origem dessa unidade morfológica está ligada à intensa dinâmica de erosão e sedimentação que ocorreu ao longo do Cenozoico Superior, resultando em uma variedade de solos, desde os férteis latossolos vermelhos até os porosos e bem drenados neossolos quartazênicos. Essa diversidade reflete a história geológica da região, que foi moldada por processos de pedogênese sob um clima tropical quente e úmido.

Do ponto de vista geocronológico, viajar pela Depressão Cuiabana é explorar capítulos da história terrestre que se desenrolaram no Cenozoico, uma era marcada por grandes mudanças climáticas e evolutivas. As formações encontradas nesta área são testemunhas de períodos nos quais o clima, as condições atmosféricas e a biota passaram por transições significativas, conduzindo ao estabelecimento do bioma Cerrado como hoje conhecemos.

Observa-se que as interações entre os componentes abióticos e bióticos foram fundamentais na configuração atual da paisagem. A textura e composição dos solos da Depressão influenciam diretamente a distribuição da vegetação, com áreas de latossolo suportando uma vegetação mais densa e áreas de neossolo acolhendo ecossistemas mais abertos e esparsos.

A atividade humana na região reflete uma adaptação às características geomorfológicas da Depressão Cuiabana. As práticas agrícolas e de conservação são influenciadas pela topografia, pela composição do solo e pela disponibilidade de recursos hídricos. Assim, o impacto da presença humana na Depressão pode ser entendido como uma camada adicional na narrativa geológica do local.

A análise desta unidade morfológica demonstra que o entendimento da geomorfologia não é estático, mas um processo contínuo que abrange a escala do tempo geológico. A Depressão Cuiabana, portanto, serve como uma cápsula do tempo, permitindo-nos desvendar o passado para compreender melhor o presente e prever futuras mudanças no cenário deste bioma singular.

Continuação do Relato das Primeiras Horas na Aula de Campo: Desvio Rumo à Chapada do Guimarães

Prosseguindo com nosso relato, após percorrer 70 quilômetros rumo ao norte-noroeste, nosso grupo encontrou-se diante de um desvio inesperado. Esta rota alternativa, situada entre o caminho para a cidade de Chapada do Guimarães e a Represa do Manso, introduziu-nos a um cenário menos familiar, mas não menos fascinante.

Geoparques: Conceito e Importância

Geoparques são áreas geográficas unificadas onde sítios do patrimônio geológico de particular importância são geridos por meio de uma abordagem holística de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. A designação de um geoparque visa não apenas conservar os valores geológicos significativos de uma região, mas também fomentar o desenvolvimento econômico local, principalmente através do turismo geológico e ecológico. Os geoparques promovem a educação ambiental e o entendimento público sobre aspectos geológicos e outros recursos naturais e culturais. Além disso, incentivam a pesquisa e fornecem uma plataforma para promover práticas de conservação e um modelo de sustentabilidade, integrando comunidades locais e visitantes numa experiência educativa e participativa. Potencial da Chapada dos Guimarães para Empreendimentos de Geoparque A Chapada dos Guimarães, com sua rica diversidade geológica, biológica e cultural, apresenta um potencial significativo para a criação de um geoparque. A área é caracterizada por formidáveis formações geológicas, incluindo cachoeiras, cavernas, formações rochosas e uma variedade de ecossistemas que representam uma história geológica diversificada e complexa. O potencial para geoturismo na Chapada dos Guimarães é robusto, dado o interesse público crescente em atividades ecológicas e experiências educativas ao ar livre. A implementação de um geoparque na região pode fornecer uma estrutura para preservar o patrimônio natural, ao mesmo tempo que estimula o desenvolvimento econômico sustentável, beneficiando as comunidades locais e promovendo a educação ambiental. A criação de um geoparque na Chapada dos Guimarães pode ser um modelo exemplar de como áreas de relevante interesse geológico podem ser conservadas e utilizadas para o desenvolvimento sustentável, alinhando preservação com progresso. Isso reforça a necessidade de um planejamento cuidadoso e de abordagens conservacionistas na expansão infraestrutural, garantindo que o desenvolvimento econômico avance em harmonia com a conservação do ambiente natural.

A proximidade com a Represa do Manso, um marco que eu pessoalmente ainda não conheço, adicionou uma camada de novidade à experiência. Embora nosso destino não fosse a represa, a tangente que tomamos nos proporcionou a oportunidade de apreciar as esculturas naturais nas rochas – testemunhos da riqueza geológica da região.

Neste desvio, que nos levou pelo que é conhecido localmente como Portinha e depois até o distrito de Água Fria, podemos observar a constante luta entre desenvolvimento e conservação. Novas estradas ajudam no progresso, mas criam reentrancias chamadas espinha de peixe, facilmente observáveis por geosensoriamento - onde novas estradas vão surgindo a partir da principa. Felizmente existem iniciativas de orientar o progresso inevitável por um paradigma conservacionista, como a criação de geoparques e exploração ecológica - sendo o local rico em rios e cachoeiras.

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A imagem ilustra uma formação rochosa típica da Chapada dos Guimarães, caracterizada por seu planalto de arenito vermelho e amarelo — cores decorrentes da presença de óxidos de ferro. Geomorfologicamente, a chapada se destaca como um relevo elevado, com escarpas marcantes resultantes de longos períodos de erosão e sedimentação. A região exibe solos como Latossolos Vermelho-Amarelo e Neossolos Quartzarênicos, refletindo um ambiente tropical com solos profundos, bem drenados e ricos em quartzo. Estes aspectos geomorfológicos e geológicos são indicativos dos processos naturais que modelaram a paisagem ao longo de eras geológicas.

Relato Pré-Almoço: Primeira Parada na MT - 404

Próximo ao meio-dia, fizemos uma parada técnica importante para o estudo de solos da turma. A construção da estrada MT - 404 expôs as camadas do solo, permitindo observar desde o solo vermelho até o amarelo arenítico. O local revelou uma sucessão de camadas de solo e formações geológicas que datam do Cretáceo ao Proterozoico.

A equipe, liderada pelos professores, teve a oportunidade de examinar diretamente as diferentes texturas e composições do solo. As características observadas incluíam Latossolos Vermelho, com boa retenção de água e nutrientes, e Neossolos Quartzarênicos, que são arenosos e drenam bem, mostrando menor capacidade de retenção.

A experiência proporcionou não só um entendimento mais aprofundado das camadas do solo, mas também das relações históricas entre clima e ecologia da região. Apesar do calor e da fome antes do almoço, a visita foi essencial para nossa aprendizagem.

Tivemos ainda um momento para observar a paisagem ao redor, em um vale verde por onde passa o rio Lagoinha. Encerramos essa etapa com a expectativa de um almoço em Campo Verde.

monumento Acima, imagem de momento da aula, na futura rodovia pavimentada MT 404

Após o encerramento desta sessão educativa e reflexiva, nos preparamos para retomar a viagem. O próximo ponto em nossa agenda era uma parada merecida para o almoço em Campo Verde, onde poderíamos recarregar nossas energias e preparar-nos para as descobertas da tarde.

Deslocamento no Planalto rumo à Nova Brasilândia

Após a pausa para o estudo do solo, continuamos nossa jornada educativa dentro do ônibus, rumo a Nova Brasilândia e Planalto da Serra. Essa parte da viagem ressaltou a transição da topografia da região: saímos das elevações modestas da Depressão Cuiabana, abaixo dos 300 metros, e ascendemos ao planalto.

Enquanto viajávamos, a elevação variou significativamente, uma oscilação notável de 800 metros acima do nível do mar, chegando a 640 metros em áreas de passagem de rios. Esse trajeto de aproximadamente 150 quilômetros entre Chapada dos Guimarães e Campo Verde nos manteve no planalto, um contraste com as altitudes menores da depressão.

O itinerário foi uma revelação da mudança na paisagem e na ecologia conforme a altitude aumentava. Essa variação influencia tanto o clima quanto a biodiversidade local, oferecendo um cenário rico para observações geográficas e ecológicas.

Conforme nos aproximávamos de Nova Brasilândia, descemos do planalto, preparando-nos para a nova geografia que nos esperava. As altitudes médias, ao redor de 450 metros, indicavam que ainda estávamos a uma altura considerável, preservando uma perspectiva elevada da região. Este segmento do trajeto nos deu uma base para comparar as características geográficas e ecológicas entre o ponto de partida e o destino final, Planalto da Serra.

Durante nossa viagem, notamos importantes características fluviais da região, como os rios da Casca e das Mortes. O Rio da Casca é essencial para o sistema hídrico local, contribuindo significativamente para a Rio do Manso e, por consequência, para o abastecimento de água, a biodiversidade e as atividades agrícolas ao redor. O Rio das Mortes, contudo, segue um caminho distinto, fluindo a oeste a partir de uma nascente próxima a Campo Verde. Ele percorre o território de Mato Grosso até encontrar o Rio Araguaia, seguindo então para o norte, até Tocantins. Este percurso demarca uma fronteira hidrográfica natural, evidenciada pelo grande divisor Chapada dos guimarães e Depressão interplanáltica de Paranatinga, e ilustra a complexa rede de bacias hidrográficas da região.

FIM DO PRIMEIRO DIA

Deixando a planície da Depressão Cuiabana, nossa rota nos levou à Depressão Interplanáltica de Paranatinga, marcada por altitudes que variam entre 150 a 400 metros. Esse corredor natural nos guiou da Chapada dos Guimarães até as elevações da Província Serrana. O terreno aqui é esculpido por estruturas orogênicas antigas e exibe solos variados, como os porosos Neossolos Quartzarênicos e os férteis Cambissolos Álicos.

Mais ao norte, a paisagem muda para a Província Serrana, um alinhamento de montanhas lineares formadas por rochas do Grupo Alto Paraguai, que se estendem como um arco com a concavidade voltada para o sudeste. As diferentes tipologias de solo suportam uma rica variedade de vida natural.

Neste contexto, passaremos dois dias aprofundando nossos estudos sobre como a geologia antiga e os processos ambientais moldaram a terra e seus ecossistemas. A rica história geológica da região de Paranatinga e da Província Serrana proporcionará um cenário educacional valioso.

Segundo dia - 10 de março, Domingo

Passando sobre o rio Teles pires

No segundo dia de campo, 10 de março, nossa exploração focou na região onde a Província Serrana encontra o Planalto dos Parecis. A Província Serrana, uma área de complexidade geomorfológica marcada por antigas estruturas orogênicas e relevos montanhosos, proporciona um contraste significativo com o planalto mais amplo e menos acidentado dos Parecis.

Viajando para leste rumo à cachoeira do Pacu, cobrimos uma distância de 20 a 25 km e observamos a confluência da Província Serrana com o Planalto dos Parecis. Notamos uma transição ecológica na vegetação, do Cerrado para um ecossistema que prenuncia a Amazônia, caracterizada por uma floresta mais densa e exuberante. A cachoeira do Pacu, localizada na junção destas unidades geográficas, serve como um indicador natural das relações entre os sistemas hidrológicos e a estrutura geológica da região.

Neste local, o Planalto dos Parecis, caracterizado por uma topografia relativamente plana e uma cobertura vegetal típica do Cerrado, desce em direção à Província Serrana. Esta última apresenta uma topografia mais acidentada, com serras e escarpas que revelam uma história geológica de intensa atividade tectônica e processos erosivos.

cachu1 Cachoeira do Pacu

cachu2 Mesma cachoeira, ângulo de cima

Segunda parada deste dia foi às marges do rio São Manuel - também Teles Pires Exposição às margens do rio

Próxima parada foi a dez quilômetros dali, às margens do rio São manuel, também conhecido como Teles Pires. As nascentes do rio Teles Pires, vitais para a hidrografia local, refletem a diversidade biológica e as condições ambientais únicas da região. Este rio atravessa importantes cidades de Mato Grosso como Sinop, Colíder, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Itaúba, Alta Floresta, Matupá, Carlinda e Paranaíta, cortando um dos maiores centros de produção de soja do planeta, e estende seu curso até Jacareacanga, no Pará. O Teles Pires, nesse sentido, é mais que um rio; ele é um eixo de identidade para o norte de Mato Grosso, conectando comunidades e moldando a cultura regional.

Além disso, o potencial para o turismo ecológico na área é notável. Cidades como Jangada já exploram o ecoturismo e aventuras ao ar livre há algum tempo, aproveitando a rica biodiversidade e o cenário natural robusto que o entorno do rio oferece, prometendo um futuro promissor para a sustentabilidade e o lazer na região.

Ao saírmos das marges do tio teles pires uma família se aproximava para começar seu fim de semana. Importante levar em consideração a relação de uma sociedade com seus recursos naturais e ecológicos, porém nessa aula de campo não houve entrevistas

Ainda iríamos, após o almoço, para uma última cachoreira, chamada Cachoeira do Salto do Bananal. Assim como todos os rio visitados até agora essa apresentava também água barrenta. Ainda assim alguns alunos, nosso guia local, também professor, e o professor Cleberson não se pouparam de se refrescar. Também eu aproveitei. Era domingo e apesar de não haverem outras pessoas, eram notáveis em todos os locais visitados que houveram fogueiras para churrasco, porém muito pouco lixo foi encontrado, o que denota alguma organização local que cuida do lixo, ou uma consciência muito aguda das pessoas com a sustentabilidade dos nichos ecológicos que visitam.

Revisão das resenhas com fins de extrair insights socioambientais

link no Google Maps para conhecer as resenhas mencionadas

Na análise do segundo dia de campo, realizamos uma revisão das resenhas disponíveis no Google Maps para extrair insights sobre a relação socioambiental no local visitado. Com base em 25 avaliações, identificamos padrões consistentes nas interações dos visitantes com o ambiente:

1. Apreciação Geral: Comentários frequentemente descrevem o local como bonito e prazeroso, refletindo uma valoração estética e ambiental que realça o bem-estar dos visitantes.
2. Lazer: As atividades de lazer, incluindo piqueniques e pesca, prevalecem nas resenhas, demonstrando a importância do local como espaço de convívio e entretenimento.
3. Infraestrutura: Questões levantadas sobre acessibilidade, particularmente em tempos chuvosos, apontam para a necessidade de melhorias na infraestrutura para facilitar o acesso sem comprometer a conservação.
4. Significado Cultural: Relatos pessoais ressaltam o local como parte integral da memória e história dos visitantes, sugerindo uma dimensão cultural significativa.
5. Mudanças Ambientais: Observações sobre variações na qualidade da água e no acesso sugerem alterações no ambiente, que podem ser atribuídas a fatores naturais ou a intervenções antrópicas.
6. Desafios e Melhorias: A dificuldade em alcançar certas áreas, como a cachoeira, destaca a oportunidade de melhorar a acessibilidade, considerando sempre a sustentabilidade.
7. Conscientização Ambiental: A notável ausência de lixo indica uma consciência ambiental dos visitantes ou esforços eficazes de manutenção, um ponto positivo para as iniciativas de conservação.
8. Benefícios Emocionais: Comentários sobre a sensação de paz proporcionada pelo local enfatizam o papel dos espaços naturais no suporte à saúde mental dos indivíduos.

As fotografias dos visitantes refletem experiências positivas, alinhadas com as resenhas, e sublinham a relação harmoniosa entre os visitantes e o ambiente.

cachu-salto Neste panorama elevado da cachoeira Salto do Bananal, observamos o dinamismo geomorfológico em ação. A erosão fluvial modela o relevo, enquanto a força da água desgasta o leito rochoso, revelando camadas geológicas diferenciadas que apontam para a heterogeneidade do subsolo. Uma cachoeira tão impresionante sugere uma história complexa de alterações no curso do rio, possivelmente ligada à atividade tectônica que caracteriza a Província Serrana. A água barrenta denuncia a intensa movimentação de sedimentos, um espelho do uso da terra e da erosão a montante. Ao redor, a vegetação robusta indica um microclima influenciado pela umidade constante gerada pelo vapor d'água, um nicho ecológico que fala tanto da abundância de precipitação quanto do regime hidrológico da área.

Fim do dia 2

No resumo do segundo dia, observamos uma complexa interação entre geografia e ecologia. A viagem revelou como a Província Serrana e o Planalto dos Parecis moldam o ecossistema em transição para a floresta Amazônica. As cachoeiras visitadas, além da sua beleza cênica, funcionam como um marcador geológico que expõe a relação entre o relevo e as dinâmicas da água.

As nascentes do Teles Pires, uma artéria fluvial crucial, iluminaram o debate sobre a sustentabilidade ambiental diante do avanço agrícola. Ao mesmo tempo, esse rio funciona como uma via de conexão cultural, reforçando a identidade regional.

O potencial de turismo ecológico, atestado por experiências semelhantes em outras cidades, abre caminho para discussões sobre o desenvolvimento sustentável e o equilíbrio entre lazer e preservação. A consciência ambiental, sugerida pela limpeza do local, levanta questões sobre sua origem, seja na população ou em alguma outra prática de gestão e iniciativas de conservação.

A interação familiar observada ressalta a necessidade de compreender melhor como as comunidades locais valorizam e interagem com esses recursos naturais. A ausência de lixo, em contraste com sinais visíveis de uso recreativo, pode indicar uma sinergia bem-sucedida entre uso humano e conservação ambiental.

Esses elementos realçam o significado da geografia física na compreensão dos desafios socioambientais e na formação de estratégias de gestão sustentável. A partir dessas observações, emergem perguntas fundamentais: Como as interações humanas afetam a longo prazo a geologia e os ecossistemas? E como podemos melhor integrar as necessidades humanas com a conservação da natureza? Estas reflexões nortearão o desenvolvimento contínuo do nosso relatório e a análise das práticas de conservação.

Terceiro dia - 11 de março, Segunda feira

mirante

No terceiro dia de campo, nos despedimos do Planalto da Serra, traçando nossa rota de volta para Campo Verde. Embora retornássemos por um caminho já conhecido, a jornada nos reservou uma nova descoberta: a visita ao Mirante da Serrinha. A 40 km de Campo Verde, esse mirante demarca a transição geográfica e agrícola da região: ao norte começa a Depressão Interplanáltica de Paranatinga, enquanto ao sul, o relevo plano do Planalto de Chapada dos Guimarães ainda domina.

No Mirante, observamos o contraste marcante entre a monocultura de soja nas planícies e as áreas acidentadas preservadas da Depressão, que desafiam a expansão agrícola. Lá, foi possível apreciar veredas e nascentes, componentes vitais da hidrografia do Cerrado, que sustentam a rica biodiversidade e contribuem para o status do bioma como berço das águas do Brasil.

Recentes análises de qualidade da água conduzidas em diversas cidades do Brasil revelaram níveis preocupantes de agrotóxicos, ultrapassando os limites seguros estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Especificamente, em 2022, 28 municípios, incluindo Matupá e Marcelândia em Mato Grosso, detectaram concentrações de substâncias perigosas como endrin e aldrin, ambos proibidos no país, e a atrazina, associada a distúrbios endócrinos e ainda vendida no Brasil, apesar de banida na União Europeia.

O consumo prolongado de água contaminada com esses agrotóxicos é associado a riscos significativos de doenças crônicas, distúrbios hormonais e problemas no sistema nervoso. Os erros apontados em algumas das publicações dos resultados dos testes, atribuídos a equívocos de digitação, sublinham desafios na precisão da vigilância da qualidade da água.

A situação exige atenção das autoridades e empresas de abastecimento para assegurar que a água consumida pela população não apresente riscos à saúde. A identificação desses contaminantes também indica a necessidade de reforçar a fiscalização e gestão do uso de agrotóxicos nas práticas agrícolas, especialmente em regiões com expansão de monoculturas como a soja.

A discussão no Mirante abordou temas relevantes como a geomorfologia local, a ecologia das veredas e os riscos de contaminação por agrotóxicos, um ponto de preocupação dada a intensidade da atividade agrícola no Mato Grosso. Aprofundamos o entendimento de que, apesar do solo atuar como um filtro natural, o transporte aéreo de agrotóxicos representa uma ameaça significativa à integridade dos ecossistemas locais e à saúde pública, como visto em incidentes em áreas como Marcelândia e Matupá.

Para concluir o dia e nossa jornada, optamos por um caminho alternativo, voltando pela estrada da Serra São Vicente. Essa escolha não foi apenas logística, mas intencional, permitindo-nos absorver as últimas lições do campo sobre a construção do estado e sua geomorfologia complexa, incluindo uma sexta unidade morfológica, não incluída no esquema oferecido durante a aula de campo.

Unidade Morfológica bonus

O "Arco de São Vicente" constitui uma feição geotectônica vinculada ao processo de formação do Granito de São Vicente, situado na região da Serra de São Vicente, no Mato Grosso. Esse arco não se enquadra simplesmente como parte do Cinturão Orogenético Paraguai-Araguaia na configuração tradicional, mas é uma manifestação geológica resultante de eventos tectônicos pós-cinemáticos no contexto da borda oriental do Pantanal, impactando a formação do Grupo Cuiabá. O Granito de São Vicente, inserido de maneira discordante em relação às rochas encaixantes e evidenciando uma aura metamórfica distinta, reflete uma atividade tectônica intensa, marcando a evolução geológica da região após os principais eventos de dobramento dos sedimentos do Grupo Cuiabá. Embora não esteja explicitamente detalhado nos esquemas de unidades morfoestruturais, como a "Depressão Interplanáltica de Paranatinga" ou a própria "Chapada dos Guimarães", o "Arco de São Vicente" é, de fato, um elemento chave na compreensão da dinâmica geológica que influenciou o soerguimento e a morfologia da Chapada dos Guimarães e regiões adjacentes. Tal soerguimento e basculamento de blocos estruturais na área foram consequências diretas da intrusão do Granito de São Vicente, que, além de seu próprio corpo intrusivo, gerou efeitos colaterais na estruturação e elevação do terreno circundante, revelando a complexa interação entre processos magmáticos e a arquitetura geotectônica do território.

Essa mudança de rota realçou o valor educacional de nossa viagem, evidenciando como a geografia física do Brasil é entrelaçada com aspectos culturais, econômicos e ambientais. Este dia final enfatizou a importância da continuidade no aprendizado, reiterando que cada paisagem tem histórias para contar e lições a serem aprendidas, completando assim um relatório minucioso da aula de campo.

CONCLUSÃO

Refletindo sobre os três dias intensivos de nossa jornada de campo em Mato Grosso, percebemos que a experiência transcendeu o mero âmbito educativo, tornando-se uma revelação profunda sobre a complexa composição que compõe o Cerrado e suas zonas limítrofes. Nesse mergulho na essência do bioma e nas interações que definem seu equilíbrio, fomos confrontados com uma realidade viva, onde a geomorfologia, a biodiversidade e a ação humana se entrelaçam em uma narrativa complexa e contínua. A exploração de paisagens tão diversas, que se estendem da Depressão Cuiabana ao Planalto dos Parecis e abarcam a Província Serrana, enriqueceu nosso entendimento acadêmico com uma dimensão palpável e imediata. A vivência no campo não apenas solidificou nossa apreciação pela geomorfologia e biodiversidade locais, mas também nos instigou a refletir sobre o impacto das nossas próprias ações na conjuntura ambiental e cultural de Mato Grosso. O ponto culminante dessa jornada, simbolizado pela visita ao Mirante da Serrinha, ampliou nosso discernimento sobre as tensões entre conservação ambiental e expansão agrícola, confrontando-nos com as escolhas e consequências que moldam o futuro da região. O alarme suscitado pela contaminação hídrica por agrotóxicos em algumas áreas sublinha a imperativa necessidade de práticas agrícolas responsáveis e de uma vigilância ambiental rigorosa, desafiando-nos a buscar um equilíbrio sustentável entre desenvolvimento e preservação. Esta imersão no campo, rica em aprendizados e descobertas, culmina com um renovado senso de responsabilidade e admiração pelo ambiente que nos rodeia. Ela reafirma nossa dedicação à geografia não somente como um domínio de estudo, mas como um imperativo ético e prático, motivando-nos a engajar ativamente na construção de um futuro mais sustentável e equitativo para Mato Grosso e além. A aula de campo, portanto, se consolida não apenas como uma memória valiosa, mas como um ponto de inflexão em nosso percurso acadêmico e pessoal, impelindo-nos a aplicar nossos conhecimentos de maneira consciente e transformadora no mundo que nos espera.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Fernando Flávio Marques de e MANTOVANI, Marta Silvia Maria. Geologia e geocronologia do granito de São Vicente, Mato Grosso. Anais da Academia Brasileira de Ciências, v. 47, n. 3-4, p. 451-458, 1975Tradução . . Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/158119/21221. Acesso em: 07 abr. 2024.

FREITAS, Helen; GAMA CUBAS, Marina. Água contaminada: testes encontram agrotóxicos além do permitido em 28 cidades. Repórter Brasil, 24 out. 2023. Disponível em: https://reporterbrasil.org.br/2023/10/agrotoxico-na-agua-contaminada-28-cidades/. Acesso em: 24 out. 2023.

G1 MATO GROSSO. Pesquisa aponta que agrotóxicos contaminaram água de 2 municípios em MT. Disponível em: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2023/10/24/pesquisa-aponta-que-agrotoxicos-contaminaram-agua-de-2-municipios-em-mt.ghtml. Acesso em: 24 out. 2023.

ROSS, J. L. S. Chapada dos Guimarães: borda da Bacia do Paraná. Revista do Departamento de Geografia – USP, v. 28, p. 180-197, 2014.

VIEIRA JÚNIOR, Hamilcar Tavares; MORAES, Juliana Maceira; FEIJÓ DE PAULA, Thiago Luiz. Geoparque Chapada dos Guimarães (MT) - proposta. In: SCHOBBENHAUS, Carlos; SILVA, Cassio Roberto da (Org.). Geoparques do Brasil: propostas. Volume I. [S.l.]: CPRM, 2012. p. 283-316.

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